O que ninguém conta

 Hoje é (mais) um daqueles dias em que sinto me a gritar por dentro enquanto fico em silêncio na cama.

Para quem chegou agora, desde muito nova passei a vida nos psiquiatras e psicólogos, ja fui brutamente medicada por "depressões" que não passavam até que há 4 anos fui diagnosticada com transtorno bipolar. Que não é nada mais nada menos que uma alteração de humor entre mania e depressão (trocado por miúdos), ao longo da vida, é perfeitamente possivel ser controlado com medicação e miseravelmente possivel sobreviver sem.

A medicação que resultava comigo era incompatível com uma gestação, e eu sabia, por isso quando soube que estava grávida deixei imediatamente qualquer tipo de medicamento (isso nunca da certo) e estou a sentir os efeitos disso sem dúvida. Mas por um bem maior tento lidar com isto de forma leviana, o que nem sempre resulta.

Quando contactei o meu psiquiatra e pedi encarecidamente para me ajudar a arranjar uma solução ele disse me "sou conservador numa gestação, se está a aguentar sem continue a tentar até um dia ja não sentir tanto a falta da medicação" (estou habituada ser atirada aos lobos mas quanto a saúde mental as coisas podem descambar num dia sem eu dar por isso).

Acontece que com uma condição mental crónica isso não acontece. E há mais, e se não correr bem? Quão benéfico seria para o feto, ou mais tarde, quão benéfico seria para um recém nascido não ter uma mãe saudável ou sequer presente porque não aguentou o processo e teve que ser internada (casos reais que aconteceram)? 

Não é suposto uma gravidez ser um martírio, um esforço fisico e psicológico tão pesado para uma mulher.

Até porque a gravidez não é uma maravilha, o corpo doi, a pele pede socorro, o nosso corpo simplesmente já não nos pertence sem falar da questão emocional que posso dizer com certeza absoluta que só agrava os sintomas do trantorno bipolar.

Foi me dado uma outra opção, na parte da psiquiatria da Maternidade AC há mulheres bipolares que são seguidas durante a gravidez e pós parto de forma a garantir que continuem com a sanidade mental com que foi iniciado o processo, claramente aceitei ser seguida lá no entanto o processo é tão lento que já estou no 2° trimestre e ainda não fui chamada para uma única consulta, e estou desde as 3 semanas sem medicação.

No meio disto tudo sinto que não há uma única alma que se preocupe que um dia eu não consiga mais aguentar, mas toda gente da palpites sobre o que é melhor para o bebé 🙃

Enquanto isso é engolir o choro e tentar afastar os demónios da minha cabeça.

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