2 semanas pós parto

 "Como está o bebé? O meu sobrinho está melhor? O Leonardo tem conseguido dormir? Manda me uma foto do meu neto! Conta me coisas do meu neto. Quando vens fazer uma visita? Quando posso ver o Leonardo?"

São as mensagens que recebo, ou quando me ligam é aquilo que perguntam, e está tudo bem, fico feliz pela preocupação.

Mas "E a mãe, tem conseguido descansar? A mãe tem comido algo? A mãe conseguiu tomar banho? A dor dos pontos está melhor? Conseguiste sair da cama hoje? Precisas de alguma coisa? A mãe tem bebido agua? Ainda tens muitas dores? COMO TE SENTES?"

ALGUÉM, sequer pensa na mãe?

A mãe que passou por um parto horrível, a mãe que chora de dores todos os dias, a mãe que não consegue dormir mais de 3h seguidas, a mãe que mal consegue segurar o filho ao colo, a mãe que sente a solidão as 4h da manhã quando toda gente dorme mas ela não porque está a tentar fazer o bebé dormir, a mãe consumida pela culpa de não conseguir ser uma boa mãe, a mãe que nem ela sabe quem é agora, a mãe que não reconhece o próprio corpo, a mãe que independentemente da dor física e cansaço psicológico tenta por o bem estar do filho em primeiro lugar, a mesma mãe que passado uma semana após o parto teve uma hemorragia e uma cirurgia de urgência porque a negligência foi tamanha que deixaram pedaços da placenta no seu útero, a mãe que se arrasta todos os dias com lágrimas nos olhos de dores para tentar acalmar o choro do seu filho, a mãe... A mãe que está com uma depressão.

Sempre me disseram que o pós parto iria ser difícil, aliás, sempre soube que ter um bebé ia ser difícil, mas ninguém me avisou que a mãe passaria a ser invisível.

Nada do que eu sinto diminui o amor que sinto pelo meu filho, mas diminui o respeito que sinto pelos demais.

A solidão é tanta que há dias que eu própria pergunto me se realmente faço falta neste momento.

Desde que pari so dizia "a única coisa que quero é ir para casa e esquecer isto tudo" que por si só já é tão triste, esquecer o nascimento do meu filho, uma semana depois deixaram me um lembrete enorme no braço, um lembrete na pele que não vai sair tão cedo, um lembrete que dói, um lembrete de tudo o que se passou e só Deus sabe como todos os dias no banho tento limpar freneticamente enquanto choro baba e ranho encolhida na banheira.

Mas ninguém consegue entender o trauma que estas duas semanas me deixaram.

O Leonardo está bem, chora muito por causa das cólicas, estamos a tentar fazer o nosso melhor, mas por vezes estamos demasiado cansados para atender as chamadas ou responder as mensagens.

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