Lapsos de memória

Escrevo hoje com a memória aos pedaços, como paginas arrancadas pelo vício que insiste em ser amante e carrasco. Deixo aqui o meu pior, o que me deixa mais vulnerável porque é algo que se tornou um ritual do meu dia a dia e inevitalmente me está a consumir de dentro para fora.

Há verdades que pesam mais do que o peso que sinto. 

Mas a preocupação começou a pesar quando percebi que era mais do que uma hábito, era uma fuga, uma companhia, um anestésico disfarçado de ritual.

As noites tornaram se cúmplices deste vício, esqueço frases, rostos, esqueço me de mim.

As vezes penso que este vício me roube lembranças para que eu não me perca em pensamentos pesados. Mas não passa de uma mentira conveniente.

Escrevo porquê preciso de me ouvir, escrevo porque na crueza das palavras encontro uma certa elegância, a elegância de assumir que sou vulnerável, que tropeço, que erro.

Envergonha me estar presa neste doce conforto daquilo que me consome, toda a minha vida senti uma repulsa enorme, mas cá estou eu.

Sei que não quero ser aprisionada por isto, não vou ser. As vezes penso que é só uma fase, mas percebo que é só mais uma desculpa para não parar. Mas sei que isto vai parar, pode não ser hoje, pode não ser amanhã mas certamente será para breve.

E não, não é que isto me torne uma pessoa má, pelo contrário, o pior efeito disto, apesar da saúde, são os lapsos de memória.


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