Sou Bipolar

 Não é segredo para quem me conhece, desde os 15 anos comecei a frequentar a ala psiquiátrica do Hospital Santa Maria, na altura não se sabia bem o que tinha "é anorexia" para uma miúda com 1.70m e 36kg claramente algo não estava bem.

A verdade é que a vida tinha dado uma volta do caraças para mim, mudei de país, não sabia a língua, o drama do pai problemático, escola, e para além disso tudo a relação com a minha mãe não era a melhor. 

Chegou se a conclusão que estava com uma anorexia nervosa, uma depressão que me estava a provocar anorexia, e desde nova corri todas as medicações possíveis para melhorar (ponderou se o internamento uma vez que eu desmaiava todos os dias e não conseguia comer) até que acertamos num medicamento.

Passaram 4 anos até ter conseguido engordar 10kg e estabilizar, escusado será dizer que 3 dos 4 anos deixei de ir as consultas porque ninguém tem tempo de puxar por uma adolescente deprimida e eu muito menos queria saber.

Aos 19 anos voltei a terapia porque sentia que precisava de largar a medicação, os efeitos secundários eram demasiado prejudiciais para a minha vida e eu estava "bem", para o meu espanto a psiquiatra na altura não achou o mesmo e encheu me de mais comprimidos.

Segui assim mais 6 anos, até que um dia decidi que ia parar sozinha, passei 6 meses a tomar metade da dose, mais 6 a tomar 1/4 ate que deixei de tomar, senti me bem, livre...

A liberdade durou meses, mais precisamente 7 meses até que um dia a ir para o trabalho tive o maior ataque de pânico de sempre, a minha memoria tem esta coisa maravilhosa de me apagar lembranças, mas lembro me da sensação de estar sentada num banco e ter tudo a mil a minha volta, tinha o corpo dormente, falta de ar, um nó no peito e a visão distorcida.

E passado uns bons minutos, consegui acalmar me e pedi ao meu padrasto para me levar as urgências, senti uma derrota enorme, voltei a ser apinhada de todo o tipo de calmantes e antidepressivos, deixei de ser Patricia para ser um corpo quase sem alma, e piorou.

Não sei explicar quando, como e porque piorou, mas piorou muito, deixei de conseguir ouvir um "não", não sabia lidar com a frustração, deixe de conseguir estar com mais de 2 pessoas ao mesmo tempo, deixei de conseguir trabalhar, fisicamente estava lá mas psicologicamente não, e se por acaso, algo corresse mal, esvaziava qualquer caixa de calmantes para não sentir nada, e esse passou a ser o meu vicio, o meu escape, tomava caixas de SOS sempre que sentia algo menos bom.

E no meio dessa loucura deixei entrar na minha vida a pessoa que me salvou.

Passado uns meses e num momento de lucidez tomei a decisão de ir a outro psicólogo, tinha ouvido falar maravilhas dele (tudo merecido) e passado algumas consultas tive um diagnostico, era bipolar. Numa próxima consulta com a minha psiquiatra do Santa Maria eu disse isso e ela simplesmente não concordou, podia ter acreditado nela, mas sabia que não podia ser uma simples depressão por muitos outros sintomas que tinha.

Nesse momento decidi que ia parar as consultas com ela, e encontrei mais um profissional de excelência, que nunca desistiu de mim, e apesar de me ter sentido um rato de laboratório durante anos, hoje sei que posso ter uma vida decente e sei que tem sido o dinheiro mais bem gasto, as consultas tanto de psicoterapia como psiquiatrias continuam com frequência, a medicação também e os seus efeitos secundários mas pelo menos hoje sei os demônios que enfrento.   

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