Vai Passar...

 

É surreal como podemos chegar a uma altura das nossas vidas em que não tem por onde correr mal, tudo o que pode correr mal já correu e nos já nos mentalizamos disso, estamos rodeados de boas pessoas, a pessoa que está na nossa vida é super compreensiva com todo este processo de transição, estamos a trabalhar em algo que gostamos... e de repente passamos 15h por dia na cama, sem força para sair, porque no escuro os nossos pensamentos sombrios não nos afetam tanto? 

A verdade é que, quando venho escrever aqui sinto que estou a beira de um colapso, a beira de fazer algo para acabar com tudo o que sinto. A última vez que isso aconteceu foi dia 25 de Dezembro, e quando recuperei jurei a mim mesma que nunca mais me ia permitir chegar a esse ponto, tentaria qualquer coisa antes, desde que me acalmasse. 

Mas a verdade é que esta luta interna é mais difícil do que pensava e mesmo quando recorro a coisas que me aliviam  sinto me mal porque estas coisas são vícios que estou a tentar no dia a dia tirar da minha vida e basta me um dia mau para voltar.

Sinto vergonha por não conseguir ser mais forte então vou escrever, quase como faço na terapia, mas sem o Dr. Paulo.

Não quero menosprezar o trabalho de um profissional, tem me ajudado muito nos últimos anos, sinto que cresci quanto pessoa, aos poucos, com muitas "chapadas" pelo meio, mas não é possível crescer sem aprender e não se pode aprender sem errar. Psicoterapia, do meu ponto de vista, é aprender a relativizar os problemas, é aprender a lidar com os nossos sentimentos, é aprender a separar os dilemas da vida com base nos nossos princípios.

A psicoterapia deve ser dos tratamentos mais lentos que existem, duvido profundamente que alguém consiga sentir-se uma nova pessoa passado 2 ou 3 sessões, isso não existe, mas definitivamente que passado 3 anos já é possível entender o porque, e quem passa por isso tem que ser uma pessoa resiliente.

A minha amiga, sempre que tem que me descrever por algum motivo diz que sou resiliente, dou uma risada, não creio que seja, sou obrigada a viver, para não causar mais dor, porque sei que tenho um proposito, porque quero deixar cá algo de mim e porque gosto de ajudar, e para ajudar preciso engolir a minha dor, seja ela real ou fruto da minha imaginação.

Hoje algo em mim dói, a minha cabeça parece que acordou de um coma, estou constantemente a um passo de cair num choro interminável e sinto que estou sozinha, quando não estou, e apesar de nada na minha cabeça fazer sentido neste momento, há uma certeza brutal: não vou voltar ao 25 de Dezembro.

Por isso vou deixar a minha mente freneticamente inquieta na minha cabeça, a minha voz aos berros sem abrir a boca, a minha alma sair de mim com a vontade louca de fazer sabe se lá o que, sentir o pânico, sentir a dor, sentir a falta de ar, sentir o medo, mas manter a cara sem expressão, o meu corpo bem quieto, as minhas mãos paradas e a respiração controlada, o tempo que for preciso.

Vai passar.

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